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A demissão de Mandetta em meio à COVID-19

A decisão de exoneração de um ministro de saúde ocorre em meio a uma pandemia de vírus e de opiniões

Por Sara Clem*

Crédito: Pedro Ladeira / Folhapress

Mediante a diversas especulações envolvendo uma possível demissão, o ex-Ministro da Saúde, Luiz Mandetta, comunicou no dia 16 de abril, através do Twitter, a sua exoneração. Depois de alguns enfrentamentos entre Ministério e Governo, a decisão foi tomada e Nelson Teich, médico oncologista, assume o posto.

O governo e o Ministério de Saúde protagonizaram algumas tensões nas últimas semanas. Os posicionamentos do ministro, tais como a recomendação de isolamento social como medida de contenção ao contágio do novo coronavírus – seguindo orientações da OMS – divergiram das declarações do Presidente Jair Bolsonaro. Essas consistiram em críticas ao isolamento social e assim, aos governadores que as estavam tomando – por prejudicar a economia – e também apoiaram a utilização da cloroquina como medicamento para se tratar sintomas da COVID-19, mesmo ainda sem comprovações de eficiência ou dos efeitos colaterais da mesma. Assim, uma das declarações do ex-ministro, foi então, para que as pessoas continuassem a seguir às recomendações dos governadores.

Diante de mais de 30.000 casos confirmados de COVID-19 no Brasil, a troca de ministros é feita. A mídia internacional já vinha alegando um descaso por parte de Jair Bolsonaro ao se tratar da pandemia. O The Washington Post declarou Bolsonaro como “pior líder mundial” a lidar com a doença, baseado nas falas do presidente contra o isolamento social. Já a BBC afirmou que a decisão de retirar um ministro popular, em meio à crise, principalmente em um país alertado do risco de um colapso do sistema de saúde, não foi o melhor caminho.

No Brasil, a recepção da notícia da demissão é feita por panelaços contra o presidente da República em diversas cidades do país. Pesquisas do Datafolha mostram que 64% dos brasileiros são contra a demissão de Mandetta, e 79% são a favor de punições para pessoas que não seguem o isolamento social. Diante disso, existem, também, os que apoiam o Presidente, assim como, são a favor da volta de circulação de pessoas e o isolamento vertical, em que somente o grupo de risco é isolado.

Dessa forma, a polarização política já latente desde as eleições presidenciais, agora ganha nova forma. A discussão entre os chamados “quarenterners” e os “cloroquiners” tem suas hostilidades trocadas via redes sociais, e uma onda de fake news altamente difundida acerca da doença também. Ademais, a instabilidade política é ainda mais fomentada, já que as tensões entre Governo e governadores ganham espaço. Foi necessário um posicionamento do STF para afirmar a autonomia dos estados em tomar decisões acerca da pandemia. O presidente, entretanto, critica a decisão, e ainda afirma que “no que depender de mim, iremos flexibilizar [o isolamento social]”. Alega que falta “humildade” entre os governadores, que continuam a manter, segundo ele, o bloqueio radical da economia. Diante dessa falta de consenso entre os poderes, o presidente ainda é visto em protestos contra o isolamento social e por pedidos de intervenção militar, em meio a quarentena. Um alerta vermelho para a saúde da democracia no Brasil.

A conclusão a que se pode chegar é que a crise mundial estabelecida afeta o Brasil economicamente, assim como a diversos países. Porém, certamente é arriscado propor um debate entre economia versus vida, tendo em vista, que exacerba a polarização e a insegurança. Assim, a instabilidade política, que há tempos dá suas caras no Brasil, agora é endossada. Contudo, esta pode ser amenizada com medidas que produzam seguridade.

Quanto à troca de ministros, portanto, ainda há inseguranças sobre a capacidade do novo ministro em lidar com o sistema de saúde público, já que possui experiência somente com o privado. E em sua última declaração, alegou que não serão feitas mudanças abruptas no isolamento social, mas a abertura da economia será retomada aos poucos, o que leva médicos e especialistas a preocupação, pois não há consenso se este relaxamento das medidas tomadas são adequadas neste momento crítico de pandemia. Desse modo, ele promete “alinhamento total” com o governo, entretanto, afirma que todas as ações serão tomadas baseadas em argumentos sólidos. Sendo assim, não se sabe ao certo quais rumos o novo comando do Ministério de Saúde tomará.

A demissão de Mandetta no atual cenário gera mais inseguranças sobre a situação da saúde pública no Brasil, e dá suporte a uma atmosfera de polarização na política, assim como prejudica a imagem do Brasil internacionalmente a curto prazo. Agora, só o tempo poderá dizer os impactos efetivos nos aspectos citados, e cabe, então, aguardar as ações do novo ministro e do Governo.

* Aluna do terceiro ano noturno do curso de Relações Internacionais na Universidade Positivo (2020).

Referências https://www.bbc.com/news/world-latin-america-52316150 https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/04/17/O-que-esperar-do-novo-ministro-da-Sa%C3%BAde-em-3-an%C3%A1lises https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/04/79-dos-brasileiros-defendem-punicao-por-violacao-de-quarentena.shtml https://www.washingtonpost.com/opinions/global-opinions/jair-bolsonaro-risks-lives-by-minimizing-the-coronavirus-pandemic/2020/04/13/6356a9be-7da6-11ea-9040-68981f488eed_story.html https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/demissao-de-mandetta-por-bolsonaro-e-reprovada-por-64-diz-datafolha.shtml https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/guerra-entre-cloroquiners-e-quarenteners-reinventa-polarizacao-na-pandemia.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2020/04/17/alinhamento-de-teich-nao-resiste-a-primeira-live.htm

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