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A linha tênue entre o Talibã e o comércio de drogas

Um exame de como o Talibã lida com as questões relacionadas às drogas.


Por Thiago Gaio*


Crédito: Nayatez (editado)


Após o anúncio do atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (Partido Democrata), de que as tropas do exército americano sairiam do Afeganistão depois de 20 anos, vieram à tona ainda mais questões internas do Estado afegão. Principalmente demonstrando o uso que o Talibã faz do plantio e produção de ópio para obter fundos para financiar seu exército, contudo, algo que não foi revelado é como essa rota de drogas funciona.


Segundo novos estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) a renda do Talibã com a venda de opiáceos ultrapassa os 3 bilhões de dólares anuais, e a retirada das tropas americanas influenciou no aumento de mais de 37% nas plantações de papoulas (de onde se extrai o ópio), atingindo uma área de 224.000 hectares, que corresponde a mais ou menos 0,3% de todo o território afegão. Torna-se, portanto, o maior produtor de ópio do planeta, gerando um incômodo para Estados na Europa e nas Américas, que caracterizam os maiores consumidores desses entorpecentes produzidos pelo grupo terrorista, agora com as rédeas do governo afegão.


Com apurações do canal televisivo “The World is One News” sediado em Nova Delhi, na Índia, foi possível descobrir as novas rotas utilizadas pelo Talibã, com o carregamento saindo do sudoeste do Paquistão em direção à Moçambique. Após a chegada no continente africano o carregamento segue a Joanesburgo na África do Sul, retornando ao Oriente Médio, mais especificamente para Doha no Catar e com isso direcionado à Índia, localidade na qual o produto é redistribuído para o restante do mundo.


Quando o assunto é o Talibã e as drogas, não podemos restringir apenas ao ópio, por exemplo, nos últimos cinco anos a produção de metanfetamina foi tão intensa que chegou a ultrapassar o comércio de ópio. Combinando este fato com a retirada das tropas americanas do território afegão, foi gerado um temor nos grandes centros populacionais europeus. Um ponto interessante é que após a retomada do poder pelo Talibã, ser usuário de drogas dentro do território do Afeganistão é expressamente proibido, os dependentes chegam a ser espancados e forçados ao internamento em centros de reabilitação. “Não somos mais uma democracia” disse o Dr Falzarabi Mayar, médico responsável por um centro de reabilitação em Cabul em entrevista ao Associated Press.


O ópio por muito tempo teve um caráter de apoio no conflito afegão, e hoje o tráfico internacional muda esse cunho para uma posição mais centralizada. Os entorpecentes não apenas corromperam o governo no Afeganistão, mas também transformaram e aprofundaram as relações entre os rebeldes e os traficantes na fronteira Paquistão-Afeganistão. A rebelião teve seu início baseado na doutrina da lei islâmica conhecida como “sharia”, no entanto hoje é liderada pelo lucro.



*Aluno do quarto período noturno do curso de Relações Internacionais da Universidade Positivo.


Referências:


ALJAZEERA. “Now in power, Taliban sets sights on Afghan drug underworld”, Jornal. Disponível em: https://www.aljazeera.com/gallery/2021/10/11/photos-kabul-afghanistan-taliban-drugs-underworld-heroin. Acesso em 11 de out. de 2021.


ARANHA, Carla; “Talibã cresce com fortuna construída sobre drogas, diz ONU”. Disponível em: https://exame.com/mundo/taliba-cresce-com-fortuna-construida-sobre-drogas-diz-onu/. Acesso em 16 de ago. de 2021.


NEVES, Ernesto; “Europa teme ‘invasão’ de drogas produzidas no Afeganistão”. Disponível em:https://veja.abril.com.br/mundo/europa-teme-invasao-de-drogas-produzidas-no-afeganistao/. Acesso em 24 de ago. de 2021.


PETERS, Gretchen; “How opium profits the Taliban”, United States Institute of Peace. Agosto de 2009.


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