Negacionismo faz os governantes temerem pelo pior em crescente de casos na Rússia
Por Thiago Gaio*

Crédito: Washington Post do dia 22/10/2021 (editada)
Com a Rússia tendo a sua pior onda na pandemia do coronavírus, batendo recordes crescentes de casos diários e mortes. Moscou anunciou mais um lockdown nesta quinta-feira (21), medida que o Kremlin anteriormente havia dito que evitaria a qualquer custo, e assim a Rússia une-se a outros países que voltam a adotar as medidas de restrições após abandoná-las quase que por completo.
Especialistas em segurança pública no Reino Unido, estão alertando o governo para retomarem algumas restrições com o aumento atual no número de casos, apesar do grande índice de vacinação no país. A Rússia, mais especificamente Moscou, tem introduzido novas medidas de segurança devido ao aumento repentino nos números de casos, incluindo um passe digital para os vacinados, e uma espécie de toque de recolher para bares e restaurantes. Contudo, essas medidas de contenção do vírus da COVID-19 foram rapidamente abandonadas, em algumas situações em menos de duas semanas. O uso de máscaras continua baixo pelo país, e o mais impactante é que a vacinação da população russa estagnou em apenas 33%, e certamente um dos motivos sejam os auto elogios dos governantes no controle da pandemia. Analistas dizem que essas atitudes dos governantes criaram uma mensagem confusa ao povo russo quanto ao porquê eles devem se vacinar.
Um novo lockdown em Moscou será o primeiro em mais de um ano, podendo ser tida como a decisão mais difícil tomada desde a saída do último lockdown em Junho de 2020. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse no início do mês de Outubro que "a introdução de um lockdown é um cenário totalmente indesejado” e também encorajou as autoridades regionais a considerarem outros métodos de conter a propagação do vírus. Um dia após esse pronunciamento o Presidente Vladimir Putin aprovou uma “semana sem trabalho” do dia 30 de Outubro até o dia 7 de Novembro, na tentativa de manter a maioria dos empregados em casa.
Apesar dessas medidas não serem rotuladas oficialmente como um lockdown, o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, anunciou que a partir do dia 28 até o dia 7 de novembro todos os serviços que não possuem caráter essencial - escolas, academias e restaurantes - serão fechados. Sobyanin escreveu em seu blog que a situação do coronavírus em Moscou “está se desenvolvendo para o pior cenário possível”, com o texto se encerrando com a seguinte frase: “Vamos ter um pequeno descanso e ajudar a salvar algumas vidas e a saúde de milhares de pessoas, para que então a nossa cidade possa voltar a normalidade”.
Nenhuma das grandes cidades russas tiveram lockdown em mais de um ano, mas no sábado dia 23 de outubro, o Estado registrou 1.048 mortes, caracterizando seu pior dia neste quesito, além de ultrapassar a marca de 225.000 mortos segundo os dados oficiais russos desde o início da pandemia, sendo de fato o país que mais registrou mortes na Europa. O pesquisador Alexei Raksha ainda acredita que a situação é pior do que a reportada, calculando o excesso de mortalidade o demógrafo acredita que um indicador mais real seria por volta dos 750.000 mortos. O cálculo feito por Raksha foi baseado nos dados da agência Russa de estatística a “Rosstat”, onde ele trabalhava.
Nesta última quarta-feira, 27/10, Putin fez um pronunciamento em rede nacional encorajando a população a se vacinar. A Rússia, apesar de ter várias vacinas produzidas em seu próprio território, nenhuma obteve a aprovação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para ser utilizada como imunizante.
A falta de transparência na contagem de casos e mortes, as vacinas duvidosas sem aprovação das agências reguladoras de outros Estados, a falta de incentivo para a imunização total da população e além do negacionismo presente tanto no âmbito governamental quanto societal, são as razões para a Rússia ser considerada um dos piores Estados na questão do manuseio de resoluções da pandemia.
*Aluno do quarto período noturno do curso de Relações Internacionais da Universidade Positivo.
Referências:
CNN Internacional. “Rússia registra novo recorde de infecções diárias por covid-19”. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/russia-registra-novo-recorde-de-infeccoes-diarias-por-covid-19/ Acesso em 25 de out. de 2021.
KHURSHUDYAN, Isabelle; ILYUSHINA, Mary; “Moscow to impose new lockdown as cases, deaths roar”, Washington Post . Acesso em 22 de out. de 2021.
SUTTON, Harriet; “Virus restrictions mount in Europe”, Yorkshire Post. Acesso em 22 de out. de 2021.