A previsão é de que os efeitos na sociedade causados pela atual crise sanitária já ultrapassam os estragos de 1929 e 2008
Por Davi P. Wuicik*

Crédito: Pixabay
A estimativa do World Economic Outlook de abril de 2020, do Fundo Monetário Internacional (FMI), abandonou os números positivos e agora toma como certo o crescimento negativo para o ano de 2020 no cenário global: 3% de retração. Os números são os piores em quase um século e trazem cada vez mais foco para as discussões de medidas econômicas que possam amortizar a queda.
O FED, sistema de reserva federal dos EUA, já anunciou grandes intervenções e alívios fiscais. Todavia, até mesmo as grandes economias mundiais irão sofrer com a desaceleração no consumo e produção. A previsão, constante no relatório do FMI, para a retração americana é de 5,9%, enquanto a China irá crescer apenas 1%.
Nações europeias também estão com crescimento negativo na estimativa do World Economic Outlook. A que mais será atingida é a Itália, com queda de 9,1%. Nesse âmbito, é possível perceber que os países com um sistema de saúde amplo, bem desenvolvido, e que tem tomado medidas contundentes contra o contágio do COVID-19, como a Alemanha, serão os menos afetados. A retração prevista é de 7%.
No Brasil, a situação não é diferente. Após anos de uma lenta e gradual recuperação com crescimentos próximos de 1%, o ano de 2020 será de uma grave queda de 5,2%, segundo o FMI. Tomados os exemplos internacionais, o país ainda demonstra tímidas ações econômicas para a magnitude da situação.
Para o professor de economia da UFRJ, Luiz Carlos Prado, o momento não é de se preocupar demasiadamente com o equilíbrio fiscal. Em entrevista para O Globo, Prado defende que a política econômica endossada agora é crucial para definir a recuperação dos próximos anos, de modo que o não intervencionismo poderá, futuramente, trazer vulnerabilidades socioeconômicas.
Uma saída sustentada pelo ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, é a ampliação da base monetária. Essa expansão contábil, popularmente reconhecida como “imprimir dinheiro”, segundo Meirelles, em entrevista para a BBC Brasil, não apresenta risco de inflação, visto que a moeda circulante reduzirá brutalmente, dada a recessão que será enfrentada. Essa medida busca manter a economia operante mesmo na instabilidade atual, evitando que ocorra um desmantelamento massivo da capacidade industrial do país, que pode gerar uma bola de neve ao minar a arrecadação tributária do Estado.
O relatório do FMI ainda é nítido a respeito das recomendações. Apesar dos efeitos colaterais de um contínuo distanciamento social, reaberturas precoces das atividades econômicas podem agravar a lentidão da recuperação econômica pós-crise. Um bom gerenciamento do sistema de saúde, aliado ao incentivo da quarentena horizontal, permitirão o restabelecimento mais eficaz da economia.
Apesar do parecer do Fundo Monetário Internacional não ser a palavra final sobre a antecipação dos efeitos, este possibilita uma boa análise, do ponto de vista econômico, sobre o que será enfrentado nos próximos meses e anos.
* Aluno do primeiro ano diurno do curso de Relações Internacionais na Universidade Positivo (2020).
Referências
PANDA, Ankit. IMF Warns of Pandemic-Induced ‘Great Lockdown’. The Diplomat, 2020. Disponível em https://thediplomat.com/2020/04/imf-warns-of-pandemic-induced-great-lockdown/ Acesso em: 17 de abril de 2020.
CAPETTI, Pedro. Economistas afirmam que maior recessão global em quase cem anos será mais grave que o previsto pelo FMI. O Globo, 2020. Disponível em https://oglobo.globo.com/economia/economistas-afirmam-que-maior-recessao-global-em-quase-cem-anos-sera-mais-grave-que-previsto-pelo-fmi-24371369 Acesso em: 17 de abril de 2020.
SCHREIBER, Mariana. Meirelles defende ‘imprimir dinheiro’ contra crise do coronavírus: ‘Risco nenhum de inflação’. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52212033 Acesso em: 17 de abril de 2020.