Com medo de perder influência, católicos disputam com evangélicos por vagas no Conselho Tutelar
Por Virginia Santos*

Crédito: A Ratificação do Tratado de Münster (1648), por Gerard ter Borch
Saindo de um histórico de eleições conturbadas no país, o Brasil se posicionou em um novo campo de guerra quanto a ideologias e opiniões, as eleições para o Conselho Tutelar. As votações que ocorreram no primeiro domingo do mês de outubro (06) dividiram críticas entre católicos e evangélicos sobre quem deveria ocupar os cargos então disputados.
Não é a primeira vez que há rivalidade entre essas duas vertentes do cristianismo. No início do século XVI, houve a Reforma Protestante liderada por Martinho Lutero, que, com suas objeções quanto ao catolicismo e como a igreja estava lidando com determinados assuntos, conseguiu, mesmo sem a intenção, desenhar uma nova divisão na religião. O início da Guerra dos Trinta Anos, em 1618, foi consequência da rivalidade estabelecida entre católicos e protestantes na Europa. Entretanto, após trinta anos de guerra, foi estabelecida a Paz de Vestfália e o Sacro Império Romano-Germânico teve de tolerar os protestantes no continente.
Na atual situação polarizada do país, salvas as grandes diferenças entre o momento atual e a Guerra dos Trinta Anos, fica fácil perceber que, ao seu modo pacífico e democrático, a realidade do século XVII está se fazendo presente mais uma vez. Nesta ocasião, o embate entre católicos e protestantes fez de vítima a votação para os conselhos tutelares. Essa disputa foi abertamente abraçada por suas respectivas instituições religiosas, incentivando a eleição de conselheiros que representem seus correspondentes valores para expandir sua influência.
No cenário político, a comunidade evangélica ganhou mais espaço desde o processo eletivo para a Assembleia Constituinte de 1986. Da mesma maneira com que houve no século XVII um descontentamento da Igreja Católica frente à expansão do protestantismo, esse fenômeno é observado em nossa sociedade quatro séculos depois. Nesse contexto, exploramos a hipérbole, uma vez que não há como comparar o que foi a guerra com a votação. Porém, não deveríamos ignorar a forma como essa figura de linguagem nos faz refletir sobre a atual situação política brasileira. Nada vai adiantar termos, em tese, um Estado laico se este for dirigido por governantes que apenas coloquem suas religiões e crenças acima da vontade de uma sociedade plural.
* Aluna no primeiro ano diurno do curso de Relações Internacionais na Universidade Positivo (2019).