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Vandalismo em Auschwitz e aumento de ataques antissemitas

Discursos de ódio ligados a ideologia nazista são cada vez mais preocupantes


Por Gabriela Aumann Balcewicz da Silva*

Arbeit macht frei sign, main gate of the Auschwitz I concentration camp, Poland- 27 November 2005, Tulio Bertorin. (editada)


O antigo campo de concentração de Auschwitz, localizado na Polônia, é hoje um museu que recebe milhares de pessoas por ano, assumindo um papel importante de evitar que a tragédia do holocausto ocorra novamente. Apesar da explícita demonstração que o memorial faz do terror que foi o nazismo, representantes do museu soltaram uma nota, na semana do dia 6 de outubro, lamentando os grafites antissemitas que foram encontrados em nove barracões da propriedade. “Tal incidente - uma ofensa ao local do memorial - é acima de tudo, um ataque ultrajante ao símbolo de uma das maiores tragédias da história da humanidade e um golpe extremamente doloroso na memória de todos”, disse a nota.


O aumento de ataques antissemitas no mundo vem preocupando a comunidade internacional nos últimos anos. Durante o evento de comemoração do 76° aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, em janeiro, Antônio Guterres, atual secretário-geral das Nações Unidas, expressou sua preocupação com o aumento do antissemitismo e outras ideologias neonazistas durante o período da covid-19. A pandemia foi um vetor para a disseminação de ataques desses grupos por meio das mídias sociais, acompanhando uma onda de desinformação científica e histórica que distorce verdades, entre elas a história do Holocausto. "Quando a verdade é apenas uma versão entre muitos, a mentira se normaliza e a história pode ser distorcida e reescrita", disse Guterres.


O grupo de extrema direita Reichsbürger (cidadãos do Reich/cidadãos imperiais), da Alemanha, pode servir de exemplo para esse fenômeno. Participam de atos antidemocráticos, onde expressam um comportamento agressivo diante de funcionários públicos, possuem uma quantidade significativa de armas ilegais, e também estavam presentes nas manifestações de 29 de agosto, no ano passado, em frente ao parlamento alemão, protestando contra as medidas adotadas para conter a pandemia.


A participação deste e de outros grupos extremistas nesses atos é estratégica para que alcancem mais visibilidade. Uma característica relevante do grupo é a utilização de bandeiras do Império Alemão, também utilizadas pelo regime de Hitler, de modo a expressar uma nostalgia ilusória pelo passado da nação. Essas bandeiras têm o papel de substituir símbolos nazistas proibidos no país, como as suásticas. Entende-se, a partir disso, a problemática dessas manifestações que muitas vezes utilizam de outros componentes para expressar suas ideologias, implicando uma disseminação velada de discursos de ódio e desinformação.


A contenção desses discursos se mostra cada vez mais urgente e requer um trabalho minucioso que abrange desde as autoridades, à comunidade acadêmica, artística e midiática, para que se evite a dispersão desses discursos, e que se valorize o conhecimento. O memorial de Auschwitz publica todos os dias, em suas redes sociais, histórias sobre as vítimas do Holocausto. Estima-se que cerca de 6 milhões de judeus foram mortos durante este período, dentre eles cerca de 1 milhão em Auschwitz. Outro projeto importante do memorial é o Podcast “On Auschwitz”, disponível nos principais streamings como Spotify, Google Podcast e Breaker, que traz alguns historiadores para debater e contar as histórias do antigo campo de concentração. Estes e outros materiais são exemplos de fontes confiáveis e seguras, que garantem o devido entendimento da História e do porquê ela não pode ser repetida.


*Aluna do 4° período noturno de Relações Internacionais na Universidade Positivo.


REFERÊNCIAS:


BONIS, Gabriel. “Reichsbürger, o grupo com elos neonazistas que rejeita a Alemanha atual e avança em atos que negam a covid-19”. BBC News Brasil. 20 de setembro de 2020. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54080994>


DEAN, Sarah. “Grafite antissemita é encontrado em Auschwitz, diz museu”. CNN Brasil. 06 de outubro de 2021. Disponível em <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/grafite-antissemita-e-encontrado-em-auschwitz-diz-museu/>


Nações Unidas Brasil Notícias. “Aumento do antissemitismo durante pandemia mostra que nunca podemos baixar a guarda”, diz chefe da ONU”. 26 de janeiro de 2021. Disponível em <https://brasil.un.org/pt-br/109192-aumento-do-antissemitismo-durante-pandemia-mostra-que-nunca-podemos-baixar-guarda-diz-chefe>


VENCESLAU, Igor. Auschwitz: os portões da memória ainda abertos. Outras Palavras. 19 fevereiro 2020.


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