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O discurso da política externa brasileira: entre Cuba e China

Como o voto a favor do embargo americano contra Cuba representa uma nova forma de fazer discurso no Brasil

Por Gabriel Teixeira F. de Souza*

Crédito: Reprodução/ Twitter / @planalto

Na quinta-feira, dia 07 de novembro de 2019, o governo brasileiro tomou uma postura histórica na Assembléia Geral das Nações Unidas: colocou-se contrário à resolução da Assembléia e a favor do embargo americano contra Cuba.

O discurso brasileiro no último ano tem sido bastante ácido contra a “ditadura cubana”, inclusive no palco das Nações Unidas, onde o Presidente desferiu diversos outros golpes aos regimes socialistas de todo o mundo, felicitando-se pelo Brasil “que ressurge depois de estar à beira do socialismo”.

Entretanto, esse discurso não se aplica a todos os países, principalmente à China. O Presidente a chamou de “capitalista” e assinou diversos acordos de cooperação, além de trocar presentes com o seu líder, Xi Jinping, uma postura bastante amigável para um regime que é bastante criticado pelo governo.

Essa “dualidade” ou “dicotomia” parece ser a nova estratégia de Política Externa para o Brasil. Para os países maiores, o discurso perde relevância, frente ao grau de parceria conquistada. Já para os países menores, como Cuba ou a Venezuela, a postura ofensiva se materializa em políticas (como mostra o voto a favor dos EUA).

Sendo uma política racional ou não, o Brasil está transmitindo diversos discursos, o primeiro deles, de país ocidental, capitalista, judaico-cristão e conservador, típico da própria equipe Bolsonaro. Esses valores se vêem materializados na aproximação com os EUA e em posturas contrárias a Cuba, por exemplo.

O segundo discurso é o de um Brasil que busca ser uma potência econômica, aberto aos investimentos de todos os lugares do mundo e “além das ideologias”. Esse é o Brasil que se relaciona com a China e com os países árabes, por exemplo.

De forma geral, os países têm posturas diferentes para situações diferentes. Entretanto, elas seguem uma guideline geral, uma forma de se fazer política externa. Porém, o problema da Política Externa do Presidente parece ser o seu mesmo problema interno: tentar unir a ideologia neoliberal com o conservadorismo.

Internacionalmente, o voto a favor dos EUA significa o nosso lado conservador. “Chega de bajular Cuba”, como coloca nosso Chanceler, Ernesto Araújo. Por outro lado, os acordos com a China representam o nosso lado liberal e de atração de investimentos.

Esses dois discursos talvez sejam o modus operandi da política externa brasileira na atualidade, e o voto contra Cuba representa justamente isso. Esse voto contra o embargo não virá sem consequências: o grande perigo é o de nos isolarmos politicamente do resto do mundo, e então também perdermos os nossos investimentos.

O que caberá observarmos no futuro é se esse alinhamento político-conservador e liberal-econômico trará benefícios ou malefícios para a nossa política externa. O que sabemos é que não são discursos complementares, mas sim opostos, e caberá ao governo decidir um discurso em detrimento do outro. Esperamos, o melhor para o país.

* Aluno do segundo ano noturno do curso de Relações Internacionais na Universidade Positivo (2019).

Referências

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